Limites ao potencial de crescimento

O Fórum Cidadão Global, promovido no último dia 5 pelo jornal Valor Econômico e pelo Banco Santander, contou com a participação do ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que fez vários questionamentos sobre o futuro, como quem se beneficiará das mudanças transformacionais que estão acontecendo com a digitalização e a inteligência artificial. Uns poucos países, empresas e cidadãos – o que poderá acentuar o sentimento de exclusão e estimular o populismo, ou conseguiremos horizontalizar os frutos desses avanços? A Fundação Obama se dedicará, em diversos países, à preparação de jovens que possam contribuir de forma importante com as mudanças que o mundo estaria precisando.

Mas o Fórum trouxe também importante debate sobre as questões atuais. Questionado sobre os principais entraves ao crescimento econômico no Brasil, o colunista-chefe de economia do Financial Times, um dos jornalistas econômicos mais influentes do mundo, Martin Wolf, destacou a necessidade de recompormos a taxa de poupança interna, hoje encolhida a algo em torno de 15% do PIB. Se quisermos crescer de 3% a 4% ao ano, devemos poupar 25% do PIB, e se quisermos crescer mais, precisamos poupar ainda mais.

Sem poupança, o país não consegue investir. É o que vem acontecendo nos últimos anos. E, sem investimentos, a produtividade estanca ou retrocede e os gargalos ao crescimento se multiplicam, que também é o que está acontecendo. E por que poupamos tão pouco? Por vários motivos: crescente transferência de recursos da sociedade para o poder público via crescimento da carga tributária, da dívida pública, da burocracia e das demais ineficiências na relação entre o cidadão e o Estado; o brasileiro não tem cultura de poupança e, ao invés de ser estimulado a isso, as políticas públicas, ao contrário, têm induzido ao consumo como forma de resgatar crescimento econômico. Mas é importante lembrar que consumo, no máximo, ajuda a aquecer os motores. O que sustenta crescimento é o investimento em infraestrutura, em tecnologia, em educação. Que no Brasil foi classificado como despesa discricionária, isto é, não obrigatória, e é sempre a primeira a ser cortada quando a ineficiência do gasto público nos leva a uma crise fiscal como a atual. É assim que, deliberadamente, limitamos o nosso crescimento potencial e a trajetória rumo ao desenvolvimento.

 

Publicado em 18.10.2017 no Jornal Diário Catarinense

O desafio da produtividade para o crescimento

Em algumas das últimas décadas do século passado, tínhamos carga tributária razoável (até 25% do PIB), poupança interna menos defasada, crescimento da produtividade e taxa de investimento adequados, o que nos permitiu, por vários anos, sermos um dos países de maior crescimento do mundo. Nos últimos tempos, todavia, temos apresentado taxas de crescimento decepcionantes, aparentemente presos no que se convencionou chamar de armadilha de renda média. Essa armadilha, contudo, tem explicações.

Pesquisa feita pelo professor Fernando Veloso, do Ibre/FGV, constatou que, de 1950 a 1980, a produtividade no Brasil cresceu, em média, 3,5% ao ano (a.a.), taxa que caiu para 0,5% a partir de 1980 e para (–) 0,3% a partir de 2010. Certamente, a principal causa dessa queda de produtividade é o crescente processo de transferência de riqueza do setor privado, incluindo famílias, para o setor público no período.

O estudo mostra ainda que, mesmo apresentado produtividade superior a de outros setores, a indústria brasileira (US$ 19.389 por trabalhador/ano, contra US$ 15.814 do setor de serviços e US$ 4.779 da agropecuária) apresenta cifra 5,7 vezes inferior dos Estados Unidos (US$ 89.318). Por outro lado, pesquisa do Ipea aponta que no período 1995-2009 a produtividade do trabalho no Brasil cresceu no acumulado 13,6%, contra 226,8% na China.

Entre os fatores de produção, no que se refere ao componente trabalho, o crescimento do PIB em alguns países da América Latina, e, especialmente, no Brasil, nos últimos 15 anos, se deveu especialmente à incorporação de novos contingentes da população ao mercado de trabalho e só 22% ao aumento da produtividade. Enquanto isso, nos países asiáticos, 86% do crescimento se deveu ao crescimento da produtividade e só 14% ao aumento do emprego. O impacto dessas diferenças na competitividade e no crescimento dos dois blocos de países é de conhecimento geral. E aqui, em nossa região, o Peru apresentou, no período analisado, crescimento médio de produtividade de 3,2% a.a., o que explica o fato de ter sido o país de maior crescimento econômico.

Para que o Brasil possa manter a modesta taxa média de crescimento no período de 2000 a 2015, de 2,7% a.a., teremos que, segundo estudo da consultoria McKinsey, triplicar o desempenho da nossa produtividade. O que, convenhamos, não será nada simples, considerando que a taxa de investimento está ao redor dos 15% do PIB, menor patamar da série histórica (contra 19,5% da África do Sul, 25,6% da Rússia, 31,4% da Índia e 44% da China, para ficarmos nos Brics) e a carga tributária tem beirado os 35% do PIB e pressionada pelo descontrole das contas públicas, especialmente dos gastos obrigatórios como a Previdência. A análise dos problemas nos aponta a lição de casa a fazer.

 

Publicado no Diário Catarinense em 23/09/17.