Maior o problema, e a solução?

A sabedoria popular aponta que a redução do nível do rio faz aparecer pedras, obstáculos. A conjugação de três fatores expôs as pedras do preço dos combustíveis no país: o aumento do preço do barril de petróleo no mercado internacional, a forte variação cambial ocorrida nas últimas semanas e a correta blindagem da Petrobras em relação à manipulação política ocorrida no governo anterior. As pedras, por sua vez, são a alta carga tributária que incide sobre os combustíveis e a dificuldade do governo de minimamente administrar a oscilação desses preços por falta de uma poupança que deveria ter sido criada durante o boom das commodities. Os extraordinários ganhos com o ciclo áureo das matérias-primas na década passada foram destinados ao aumento de gastos públicos, e pior, permanentes. O Brasil fez certo em criar um robusto fundo de reservas internacionais que nos protege em algum grau de crises externas, mas não criou superávit primário para enfrentar as internas. Quando um problema como a greve dos caminhoneiros aparece, o governo não tem munição para resolvê-lo, e transfere a conta de quem pressiona mais para quem pressiona menos.

A solução passa necessariamente pelas reformas, pela redução e pelo aumento da eficiência do gasto público. As consequências são igualmente nocivas para quem perde o controle das suas contas, seja uma família, uma empresa ou o país. O atual governo vinha evoluindo bem nessa agenda de mudanças necessárias. Mas foi paralisado na principal delas, que é a da Previdência, responsável pelo maior rombo nas contas públicas.

Quando um país gasta 20% do PIB para manter a máquina pública e o governo não consegue investir 2% para que a sociedade tenha boa infraestrutura e bons serviços públicos, algo está errado. A solução não é de curto prazo. Enquanto isso, não é admissível que um setor ou categoria queira resolver o seu problema às custas do restante da sociedade. Os caminhoneiros não foram parte da solução, e sim do problema. Ou melhor, agravaram o problema.

 

Artigo publicado em 11.06.2018 no Jornal A Tarde (BA).