Elementares princípios de gestão pública

A dívida pública no país está em rota explosiva, principal motivo para o Brasil ter perdido o grau de investimento das agências de risco. Como lembra o ex-ministro Delfim Netto, a dívida pública deve financiar investimento, e não despesas correntes, salários e transferências de renda, como vinha acontecendo aqui. É como se uma empresa privada buscasse, sistematicamente, financiamentos bancários para atender necessidades de capital de giro. Desfecho previsível.

Além de termos de limitar os gastos públicos, eles devem ser repensados. É inadmissível que o país continue se curvando ao corporativismo de setores expressivos dos três poderes, que defende privilégios e entrava reformas necessárias ao reequilíbrio das contas públicas, na União e nos Estados, como bem alertou o editorial da RBS/SC. O ex-secretário de política econômica Bernard Appy recomenda flexibilizar despesas de pessoal para corrigir a situação que chama de irracional, mencionando os Estados que não conseguem manter hospitais públicos funcionando, enquanto parte da força de trabalho do setor público não faz nada. Francis Fukuyama, professor da Universidade Stanford, nos EUA, afirma que, para aumentar a eficiência do Estado, os governos precisam separar funcionários que trabalham muito dos descomprometidos. É necessário rever as aposentadorias especiais que, segundo Samuel Pessôa, do Ibre-FGV, estão quebrando os Estados. A proposta de reforma da Previdência Social que o governo mandou ao Congresso é um bom começo para criar um sistema sustentável, igual para todos os brasileiros.

O economista José Roberto Afonso, um dos autores da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), afirma que alguns governos estaduais chegaram à situação de insolvência porque agiram alheios aos ciclos econômicos, desconsideraram a possibilidade de recessão. E diz estranhar que os poderes guardiões da lei – Legislativo, Judiciários e Ministérios Público – tenham liderado “o movimento de aprovação artificial das contas públicas”. Ele destaca a necessidade de regulamentação de dois artigos da LRF: o estabelecimento de limites ao endividamento da União e a criação do Conselho de Gestão Fiscal (CGF), que seria o “cão de guarda” da disciplina fiscal. Por iniciativa do MBE, o senador Paulo Bauer propôs a regulamentação do CGF e conseguiu aprovar o seu projeto de lei no Senado por unanimidade. Tramita agora na Câmara de Deputados sob o número PLP 210/2015.

Os governos precisam aprender a poupar em períodos de crescimento para poder “despoupar” em períodos de dificuldades, e, assim, evitar as recorrentes crises que temos visto no país, inclusive nos Estados e municípios.

Publicado no Jornal Diário Catarinense em 23.02.2017.